#TroteSemAssédio

A recepção aos calouros também é assunto sério

Joyce Noronha

"O veterano mandou, o bixo vai ter que fazer. O veterano mandou, o bixo vai obedecer. Vira tequila. Vira cachaça...". O trecho pode ser de uma música, conhecida como o Hino do Universitário, mas, para a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o assunto é sério. Em uma iniciativa contra o "trote sujo", a instituição lançou a campanha Trote Sem Assédio, que busca conscientizar calouros e veteranos sobre as atitudes que podem ser consideradas abusivas.

Segundo o ouvidor da UFSM, Jorge Renato Alves da Silva, a campanha é uma iniciativa do Gabinete do Reitor, junto da Ouvidoria. A Ouvidoria da UFSM, órgão oficial para registrar manifestações, foi criada em 2008. O órgão começou a contabilizar as manifestações registradas como assédio moral a partir de 2012 (veja abaixo). E essas manifestações foram feitas não só durante o período de trote na UFSM, mas, principalmente, ao longo do ano.

Lideranças festejam possibilidade de a Unifra virar universidade

Conforme Silva, a opção "assédio sexual" para registro foi implementado no site do órgão em janeiro deste ano. Até então, o tema era tratado como assédio moral. 

Ele não deu detalhes dos casos que chegam, mas explicou que as denúncias são avaliadas e encaminhadas para os diretores dos centros da universidade, que dão continuidade ou não a essas denúncias. Muitas acabam sendo descartadas por falta de materialidade, mas outras viram objeto de sindicância interna ou mesmo vão para a justiça

EVOLUÇÃO

A contagem varia de ano a ano, mas é visível um crescimento das manifestações. De acordo com Silva, o aumento não se dá, necessariamente, porque ocorrem mais casos de abuso, mas sim porque as pessoas estão cada vez mais confiantes para registrarem denúncias.

O ouvidor da instituição diz que as pessoas estão com mais coragem de registrarem denúncias de assédio na Ouvidoria Foto: Gabriel Haesbaert / NewCO DSM

O ouvidor destaca a preocupação da universidade em acolher bem os novos estudantes e chama atenção para a recepção promovida pelos veteranos, tradicionalmente conhecida como "trote", que pode, mesmo que de forma implícita, ter atividades de assédio.

Escola festeja 20 anos de carinho e profissionalização pelo ensino

Para que os estudantes entendam quando uma atitude pode e deve ser considerada assédio, moral ou sexual, a UFSM distribuiu cartilhas nesta Semana da Calourada. 

Além disso, o projeto de extensão Gritos do Silêncio, grupo que propôs o Trote Sem Assédio, como um projeto, no início deste ano, promoveu uma semana de entrevistas na Rádio Universidade (800 AM) para explicar a campanha. Todo o material de áudio está disponível no site da rádio.

ASSÉDIO EM NÚMEROS

Desde que foi instalada, a Ouvidoria percebeu um aumento no número de denúncias. Confira:

– 2012: 9 denúncias (cinco indeferidas e quatro concluídas)

– 2013: 32 (18 concluídas, 11 indeferidas e três em andamento)

– 2014: 26 (24 concluídas, uma indeferida e uma em andamento)

– 2015: 42 (30 concluídas, nove indeferidas e três em andamento)

– 2016: 52 (47 concluídas, três indeferidas e duas em andamento)

– 2017: Até o final de junho, 23 (22 concluídas e uma indeferida)


TOLERÂNCIA ZERO

Para o reitor da UFSM, Paulo Burmann, a campanha Trote Sem Assédio implementa a tolerância zero para as atitudes de abuso na universidade:

– Queremos chamar atenção para o problema e queremos mostrar para a vítima de assédio que pode encontrar apoio na instituição. O efeito desejado é coibir qualquer atitude que seja abusiva entre todos os grupo integrantes da universidade.

Campanha de lacres do Guto alcançou 60 quilos em 12 dias

Quem se sentirem em situação desconfortável, pode recorrer à Ouvidoria da UFSM para buscar orientação e registrar uma manifestação, seja ela de assédio moral ou sexual.

COMO DENUNCIAR

Para orientações e informações:

– Pelo e-mail [email protected]

– Pelo telefone (55) 3220-9655

Denúncias:

– Exclusivamente pelo portal da Ouvidoria da UFSM


ESTUDANTES FALAM EM RESPEITO NO "TROTE SUJO"

Mesmo que a UFSM promova a Semana da Calourada, dentro do campus Camobi, os estudantes costumam se encontrar no Centro da cidade para fazer o "trote sujo", que é proibido dentro da instituição. A Praça Saturnino de Brito é o principal ponto de encontro dos calouros e veteranos. Na noite de quarta-feira, uma equipe do Diário foi conversar com os estudantes sobre a campanha Trote Sem Assédio.

Os calouros de Engenharia Civil Guilherme Ullrich, 22 anos, e Giovana Saccol, 18, que estavam cobertos de tinta e farinha, dizem que ouviram falar da campanha mas não tinham muito conhecimento sobre o que se tratava.

Giovana Saccol, 18 anos, diz que quis participar do trote sujo, mas salienta que os veteranos foram bastante respeitosos Foto: Lucas Amorelli / New Co DSM

Apesar disso, a dupla comenta que considera assédio qualquer situação em que uma pessoa force outra a fazer algo que não queria.

– Quando ultrapassa um limite que tu impõe. E acho que mulher é a que mais sofre nestas situações – opina Giovana, que recebeu um balanço de cabeça afirmativo do colega.

Guilherme diz que os veteranos respeitaram muito os "bixos" no momento de aplicar o "trote sujo", não jogando tinta, farinha e ovos em quem não quis participar. Outro ponto que ele salienta é a preocupação dos veteranos em comprar tintas antialérgicas, para que os calouros não tivessem problemas de qualquer natureza com a "sujeira" que receberiam.

Instituições de Santa Maria oferecem bolsas e 60 vagas de estágios para acadêmicos

Já os veteranos de Medicina Marcelly Gomes, 19, e Diogo Meneguelli, 19, comentam que também decidiram respeitar os calouros e aplicaram o "trote sujo" apenas nos estudantes que aceitaram. Marcelly diz que quando entrou no curso recebeu a "sujeira" do trote quando foi "bixo", mas salienta que seus veteranos não forçaram os calouros a fazer qualquer coisa.



Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

6 concursos estão com inscrições abertas no Estado

Próximo

Edital prevê serviço para viabilizar reabertura do Restaurante Popular

Geral